Talvez...


Talvez alguém telefone e me faça um convite irresistível. 
Talvez alguém passe e me leve para nem-quero-saber-aonde.
Talvez o olhar do meu filho me aqueça por dentro.
Talvez o sol na pele me lembre um prazer.
Talvez ficar bem quieta não me assuste. 
Talvez só ouvir passarinhos não pareça um vazio. 
Talvez ainda reste algum sonho misturado ao pacote de chocolates.
Talvez eu consiga ouvir minha gargalhada extraviada. 
Talvez eu aperte os olhos bem apertados e, quando eu abrir, 
todo pesadelo terá passado. 
Talvez eu olhe em torno e veja alegria no rosto dos outros.
Talvez eu consiga querer.
Talvez tudo de novo fique possível. 
Talvez algum burburinho dentro de mim me devolva ao dançar. 
Talvez ainda haja planos para fazer e acontecer.
Quem sabe um abraço,
talvez um abraço... 

* Virgínia Cavalcanti