Sobre o Amor



Tem amor que cabe numa xícara de café, chocolate de menta e água gaseificada para dar sabor. Tem amor de taça de champagne, bolo de quatro andares e sorriso na fotografia.
Tem amor que se joga no mar, biquini descuidado, corpo relaxado e um peixe entre as pernas.
E outros mais sofisticados, em copos de uísque com gelo, debaixo de um guarda-sol na beira da piscina.
Tem amor que a gente esquece e depois diz que era intenção, de pronto, abortada.
E outros que incubam a vida toda e quando dão de acontecer se perguntam: por que demoramos tanto?
Tem amor com papel passado e outros com papel amassado num fundo de armário.
E tem amor mofado que só precisa tomar Sol para se aquecer de novo.
Tem amor que decepa o medo e se instala rapidinho.
E outros que o egoísmo estrangula, os pés debatendo, as mãos atadas, o ar mais e mais escasso. Tem amor que é criança e dá cambalhota no meio do quarto.
E aqueles que a gente pensa que está morto, mas eis que apertam a campainha um dia desses e dizem: vamos?
Tem amor vadio, de fim de tarde, dentro do carro.
Tem amor bandido, no meio da noite, mãos tapando a boca.
Tem amor de orgasmos e amor masturbatório.
Tem amor que fala mais do que apronta.
Tem amor que precisa de silêncio.
E amor que nem fala, não dá tempo.
Tem amor embriagado que não sabe onde anda e acorda em lugares estranhos.
Tem amor que exige mais do que dá, feito um tirano à paisana e depois perde o sono.
Tem amor que excede, transborda e sufoca de tanto cuidado.
Tem amor que não se atreve e perde a deixa.
Tem amor a pino e amor de ocaso.
Tem amor vermelho que mancha onde esbarra.
E amor transparente que perde o contorno.
Tem amor que se esparrama e segura no pé, ao som da Bethania.
E amor de quinze minutos, no banheiro da discoteca, em cima do tampo.
Tem o amor do Chico, amor do Vinícius e o incomparável, amor do Caetano.
Tem amor sem pressa alguma, íntimo do tempo.
E amor que se consome violento, ali mesmo.
Tem amor que vira tudo de cabeça pra baixo e não sobra ponto para completar as reticências. Tem amor que a gente aprende a confiar, mas há aqueles que a gente confia de imediato.
Tem amor que só existe na corda-bamba.
E amor com os pés à vontade na grama.
Tem amor que derruba homem já feito e amor que ensina o caminhar para a nossa criança.
Tem amor para tudo quanto é gosto, por isso não me venham com modelos prontos, conselhos tortos e interpretações analíticas.
Amor é presente conjugado.
O resto é ficção do tempo, pra gente se sentir mais acordado e escapar da roda-viva.
* Tatiana Carlotti